De Laços Cortados
No meu crescimento, o “vínculo” sempre pareceu um detalhe sem importância — ou pelo menos era assim que meus pais me ensinavam. Não criar laços. E, ironicamente, foi justamente isso que mais doeu na vida adulta.
Na infância, não havia crianças boas para brincar comigo — como eles diziam. Quando me juntava a alguma, sentia-me como um canário fugindo da gaiola: livre, mas vulnerável demais. Nos primeiros anos da escola, fazia uma ou duas amizades, e, no ano seguinte, talvez as perdesse. O erro era sempre o mesmo: minha boca grande demais, palavras soltas que magoavam, vindas de algo que eu via, escutava ou simplesmente sentia. Algo inapropriado, sempre.
Com o tempo, fui perdendo o que ao menos acreditava ter. Aprendi que isso acontece quase sempre. Sei bem da dor que posso causar, mesmo sem querer. Às vezes, minhas palavras escapam e machucam quem está perto. Hoje, amigos são poucos. Se eu contar, não tenho nem uma mão cheia.
Sinto muito por cada palavra dita sem motivo — mas, para aqueles que merecem, não sinto mais. E ainda assim… se minha criação tivesse sido um pouco mais doce, talvez a solidão não me encontrasse tão cedo. Talvez eu não fosse tão só. Só acho.

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